Um guia sobre
o uso de tecnologias em sala de aula
Um painel para todas as
disciplinas mostra quando - e como - as novas ferramentas são imprescindíveis
para a turma avançar
Recursos didáticos. Como usar a tecnologia na sala de
aula.
TICs, tecnologias da
informação e comunicação. Cada vez mais, parece impossível imaginar a vida sem
essas letrinhas. Entre os professores, a disseminação de computadores,
internet, celulares, câmeras digitais, e-mails, mensagens instantâneas, banda
larga e uma infinidade de engenhocas da modernidade provoca reações variadas.
Qual destes sentimentos mais combina com o seu: expectativa pela chegada de
novos recursos? Empolgação com as possibilidades que se abrem? Temor de que
eles tomem seu lugar? Desconfiança quanto ao potencial prometido? Ou, quem
sabe, uma sensação de impotência por não saber utilizá-los ou por conhecê-los
menos do que os próprios alunos?
Se você se identificou com
mais de uma alternativa, não se preocupe. Por ser relativamente nova, a relação
entre a tecnologia e a escola ainda é bastante confusa e conflituosa. NOVA
ESCOLA quer ajudar a pôr ordem na bagunça buscando respostas a duas questões
cruciais. A primeira delas: quando usar a tecnologia em sala de aula? A
segunda: como utilizar esses novos recursos?
Dá para responder à
pergunta inicial estabelecendo, de cara, um critério: só vale levar a
tecnologia para a classe se ela estiver a serviço dos conteúdos. Isso exclui,
por exemplo, as apresentações em Power Point que apenas tornam as aulas mais
divertidas (ou não!), os jogos de computador que só entretêm as crianças ou
aqueles vídeos que simplesmente cobrem buracos de um planejamento malfeito.
"Do ponto de vista do aprendizado, essas ferramentas devem colaborar para
trabalhar conteúdos que muitas vezes nem poderiam ser ensinados sem elas",
afirma Regina Scarpa, coordenadora pedagógica de NOVA ESCOLA.
Da soma entre tecnologia e
conteúdos, nascem oportunidades de ensino - essa união caracteriza as
ilustrações desta reportagem. Mas é preciso avaliar se as oportunidades são
significativas. Isso acontece, por exemplo, quando as TICs cooperam para
enfrentar desafios atuais, como encontrar informações na internet e se
localizar em um mapa virtual. "A tecnologia tem um papel importante no desenvolvimento
de habilidades para atuar no mundo de hoje", afirma Marcia Padilha Lotito,
coordenadora da área de inovação educativa da Organização dos Estados
Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI). Em outros casos,
porém, ela é dispensável. Não faz sentido, por exemplo, ver o crescimento de
uma semente numa animação se podemos ter experiência real.
Nove dicas para usar bem a tecnologia
O INÍCIO, Se você quer utilizar a
tecnologia em sala, comece investigando o potencial das ferramentas digitais.
Uma boa estratégia é apoiar-se nas experiências bem-sucedidas de colegas.
O CURRÍCULO, No planejamento anual,
avalie quais conteúdos são mais bem abordados com a tecnologia e quais novas
aprendizagens, necessárias ao mundo de hoje, podem ser inseridas.
O FUNDAMENTAL, Familiarize-se com o básico do computador e
da internet. Conhecer processadores de texto, correio eletrônico e mecanismo de
busca faz parte do cardápio mínimo.
O ESPECÍFICO Antes de iniciar a atividade em sala,
certifique-se de que você compreende as funções elementares dos aparelhos e
aplicativos que pretende usar na aula.
A
AMPLIAÇÃO Para avançar no uso
pedagógico das TICs, cursos como os oferecidos pelo Proinfo (programa de
inclusão digital do MEC) são boas opções.
O
AUTODIDATISMO A internet também ajuda na
aquisição de conhecimentos técnicos. Procure os tutoriais, textos que explicam
passo a passo o funcionamento de programas e recursos.
A
RESPONSABILIDADE Ajude a turma a refletir sobre o
conteúdo de blogs e fotologs. Debata qual o nível de exposição adequado,
lembrando que cada um é responsável por aquilo que publica.
A SEGURANÇA Discutir precauções no uso da internet é
essencial, sobretudo na comunicação online. Leve para a classe textos que
orientem a turma para uma navegação segura.
A PARCERIA Em caso de dúvidas sobre a tecnologia, vale
recorrer aos próprios alunos. A parceria não é sinal de fraqueza: dominando o
saber em sua área, você seguirá respeitado pela turma.
Fontes: Adriano Canabarro Teixeira, especialista de Educação
e tecnologia da UFRGS, Maria de Los Dolores Jimenez Peña, professora de Novas
Tecnologias Aplicadas à Educação Da Universidade Mackenzie, e Roberta Bento,
diretora da Planeta Educação.
BIBLIOGRAFIA
Educação Hoje: "Novas" Tecnologias, Pressões
e Oportunidades, Pedro Demo, 144 págs., Ed. Atlas, tel. 0800-171-944, 38 reais
Tecnologias para Transformar a Educação, Juana María
Sancho e Fernando Hernández, 200 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444,
1 – As Tecnologias e a Educação
O
reconhecimento de uma sociedade cada vez mais tecnológica deve ser acompanhado
da conscientização da necessidade de incluir nos currículos escolares as
habilidades e competências para lidar com as novas tecnologias. No contexto de
uma sociedade do conhecimento, a educação exige uma abordagem diferente em que
o componente tecnológico não pode ser ignorado.
As novas
tecnologias e o aumento exponencial da informação levam a uma nova organização
de trabalho, em que se faz necessário: a imprescindível especialização dos
saberes; a colaboração transdisciplinar e interdisciplinar; o fácil acesso à
informação e a consideração do conhecimento como um valor precioso, de
utilidade na vida econômica.
Diante disso,
um novo paradigma está surgindo na educação e o papel do professor, frente às
novas tecnologias, será diferente. Com as novas tecnologias pode-se desenvolver
um conjunto de atividades com interesse didático-pedagógico, como: intercâmbios
de dados científicos e culturais de diversas naturezas; produção de texto em
língua estrangeira; elaboração de jornais inter-escolas, permitindo
desenvolvimento de ambientes de aprendizagem centrados na atividade dos alunos,
na importância da interação social e no desenvolvimento de um espírito de
colaboração e de autonomia nos alunos.
O professor,
neste contexto de mudança, precisa saber orientar os educandos sobre onde
colher informação, como tratá-la e como utilizá-la. Esse educador será o
encaminhador da autopromoção e o conselheiro da aprendizagem dos alunos, ora
estimulando o trabalho individual, ora apoiando o trabalho de grupos reunidos
por área de interesses.
A qualidade da
educação, geralmente centradas nas inovações curriculares e didáticas, não pode
se colocar à margem dos recursos disponíveis para levar adiante as reformas e
inovações em matéria educativa, nem das formas de gestão que possibilitam sua
implantação. A incorporação das novas tecnologias como conteúdos básicos comuns
é um elemento que pode contribuir para uma maior vinculação entre os contextos
de ensino e as culturas que se desenvolvem fora do âmbito escolar.
Frente a esta
situação, as instituições educacionais enfrentam o desafio não apenas de
incorporar as novas tecnologias como conteúdos do ensino, mas também reconhecer
e partir das concepções que as crianças têm sobre estas tecnologias para
elaborar, desenvolver e avaliar práticas pedagógicas que promovam o
desenvolvimento de uma disposição reflexiva sobre os conhecimentos e os usos
tecnológicos.
A sociedade
atual passa por profundas mudanças caracterizadas por uma profunda valorização
da informação. Na chamada Sociedade da Informação, processos de aquisição do
conhecimento assumem um papel de destaque e passam a exigir um profissional
crítico, criativo, com capacidade de pensar, de aprender a aprender, de
trabalhar em grupo e de se conhecer como indivíduo. Cabe a educação formar esse
profissional e para isso, esta não se sustenta apenas na instrução que o
professor passa ao aluno, mas na construção do conhecimento pelo aluno e no
desenvolvimento de novas competências, como: capacidade de inovar, criar o novo
a partir do conhecido, adaptabilidade ao novo, criatividade, autonomia,
comunicação. É função da escola, hoje, preparar os alunos para pensar, resolver
problemas e responder rapidamente às mudanças contínuas.
2 - Novas
Tecnologias e novas formas de aprender
Com as Novas
Tecnologias da Informação abrem-se novas possibilidades à educação, exigindo
uma nova postura do educador. Com a utilização de redes telemáticas na
educação, pode-se obter informações nas fontes, como centros de pesquisa,
Universidades, Bibliotecas, permitindo trabalhos em parceria com diferentes
escolas; conexão com alunos e professores a qualquer hora e local, favorecendo
o desenvolvimento de trabalhos com troca de informações entre escolas, estados
e países, através de cartas, contos, permitindo que o professor trabalhe melhor
o desenvolvimento do conhecimento.
O acesso às
redes de computadores interconectadas à distância permitem que a aprendizagem
ocorra frequentemente no espaço virtual, que precisa ser inserido às práticas
pedagógicas. A escola é um espaço privilegiado de interação social, mas este
deve interligar-se e integrar-se aos demais espaços de conhecimento hoje
existentes e incorporar os recursos tecnológicos e a comunicação via redes, permitindo
fazer as pontes entre conhecimentos se tornando um novo elemento de cooperação
e transformação. A forma de produzir, armazenar e disseminar a informação está
mudando; o enorme volume de fontes de pesquisas são abertos aos alunos pela
Internet, bibliotecas digitais em substituição às publicações impressas e os
cursos à distância, por videoconferências ou pela Internet.
A formação de
professores para essa nova realidade tem sido crítica e não tem sido
privilegiada de maneira efetiva pelas políticas públicas em educação nem pelas
Universidades. As soluções propostas inserem-se, principalmente, em programas
de formação de nível de pós-graduação ou, como programas de qualificação de
recursos humanos. O perfil do profissional de ensino é orientado para uma
determinada "especialização", mesmo por que, o tempo necessário para
essa apropriação não o permite. Como resultado, evidencia-se a fragilidade das
ações e da formação, refletidas também através dos interesses econômicos e
políticos. (Costa e Xexéo,1997).
O objetivo de
introduzir novas tecnologias na escola é para fazer coisas novas e
pedagogicamente importantes que não se pode realizar de outras maneiras. O
aprendiz, utilizando metodologias adequadas, poderá utilizar estas tecnologias
na integração de matérias estanques. A escola passa a ser um lugar mais
interessante que prepararia o aluno para o seu futuro. A aprendizagem centra-se
nas diferenças individuais e na capacitação do aluno para torná-lo um usuário
independente da informação, capaz de usar vários tipos de fontes de informação
e meios de comunicação eletrônica.
Às escolas
cabe a introdução das novas tecnologias de comunicação e conduzir o processo de
mudança da atuação do professor, que é o principal ator destas mudanças,
capacitar o aluno a buscar corretamente a informação em fontes de diversos
tipos. É necessário também, conscientizar toda a sociedade escolar,
especialmente os alunos, da importância da tecnologia para o desenvolvimento
social e cultural.
O salto de
qualidade utilizando novas tecnologias poderá se dar na forma de trabalhar o
currículo e através da ação do professor, além de incentivar a utilização de
novas tecnologias de ensino, estimulando pesquisas interdisciplinares adaptadas
à realidade brasileira. As mais avançadas tecnologias poderão ser empregadas
para criar, experimentar e avaliar produtos educacionais, cujo alvo é avançar
um novo paradigma na Educação, adequado à sociedade de informação para
redimensionar os valores humanos, aprofundar as habilidades de pensamento e tornar
o trabalho entre mestre e alunos mais participativo e motivante.
A integração
do trabalho com as novas tecnologias no currículo, como ferramentas, exige uma
reflexão sistemática acerca de seus objetivos, de suas técnicas, dos conteúdos
escolhidos, das grandes habilidades e seus pré-requisitos, enfim, ao próprio
significado da Educação.
Com as novas
tecnologias, novas formas de aprender, novas competências são exigidas, novas
formas de se realizar o trabalho pedagógico são necessárias e fundamentalmente,
é necessário formar continuamente o novo professor para atuar neste ambiente
telemático, em que a tecnologia serve como mediador do processo
ensino-aprendizagem.
3 Perfil do professor e exigências de formação
Existem
dificuldades, através dos meios convencionais, para se preparar professores
para usar adequadamente as novas tecnologias. É preciso formá-los do mesmo modo
que se espera que eles atuem.
As tentativas
para incluir o estudo das novas tecnologias nos currículos dos cursos de
formação de professores esbarram nas dificuldades com o investimento exigido
para a aquisição de equipamentos, e na falta de professores capazes de superar
preconceitos e práticas que rejeitam a tecnologia mantendo uma formação em que
predomina a reprodução de modelos substituíveis por outros mais adequados à
problemática educacional.
Os professores
são profissionais que tem uma função re(criadora) sistemática, sendo esta a
única forma de proceder quando se tem alunos e contextos de ensino com
características tão diversificadas, como sucede em todos os níveis de ensino. A
função do professor é a criação e recriação sistemática, que tem em conta o
contexto em que se desenvolve a sua atividade e a população-alvo desta
atividade.
É preciso
estimular a pesquisa e colocar-se a caminho com o aluno e estar aberto à
riqueza da exploração, da descoberta de que o professor, também pode aprender
com o aluno. na formação do professor, este, durante e ao final do processo,
precisa incorporar na sua metodologia:]conhecimento das novas tecnologias e da
maneira de aplicá-las; estímulo à pesquisa como base de construção do conteúdo
a ser veiculado através do computador, saber pesquisar e transmitir o gosto
pela investigação a alunos de todos os níveis; capacidade de provocar hipóteses
e deduções que possam servir de base à construção e compreensão de conceitos;
habilidade de permitir que o aluno justifique as hipóteses que construiu e as
discuta; especialidade de conduzir a análise grupal a níveis satisfatórios de
conclusão do grupo a partir de posições diferentes ou encaminhamentos
diferentes do problema; a capacidade de divulgar os resultados da análise
individual e grupal de tal forma que cada situação suscite novos problemas
interessantes à pesquisa;
A sociedade do
conhecimento exige um novo perfil de educador, ou seja, alguém: Comprometido -
com as transformações sociais e políticas; com o projeto político-pedagógico
assumido com e pela escola; Competente - evidenciando uma sólida cultura geral
que lhe possibilite uma prática interdisciplinar e contextualizada, dominando
novas tecnologias educacionais. Um profissional reflexivo, crítico, competente
no âmbito da sua própria disciplina, capacitado para exercer a docência e
realizar atividades de investigação; Crítico - que revele através da sua postura
suas convicções, os seus valores, a sua epistemologia e a sua utopia, fruto de
uma formação permanente; seja um intelectual que desenvolve uma atividade
docente crítica, comprometida com a ideia do potencial do papel dos estudantes
na transformação e melhoria da sociedade em que se encontram inserida; Aberto à
mudanças - ao novo, ao diálogo, à ação cooperativa; que contribua para que o
conhecimento das aulas seja relevante para à vida teórica e prática dos
estudantes; Exigente - que promova um ensino exigente, realizando intervenções
pertinentes, desestabilizando, e desafiando os alunos para que desencadeie a
sua ação reequilibradora; que ajude os alunos a avançarem de forma autônoma em
seus processos de estudos, e interpretarem criticamente o conhecimento e a
sociedade de seu tempo; Interativo - que concorra para a autonomia intelectual
e moral dos seus alunos trocando conhecimentos com profissionais da própria
área e com os alunos, no ambiente escolar, construindo e produzindo
conhecimento em equipe, promovendo a educação integral, de qualidade,
possibilitando ao aluno desenvolver-se em todas as dimensões: cognitiva,
afetiva, social, moral, física, estética.
A formação de
professores sinaliza para uma organização curricular inovadora que, ao ultrapassar
a forma tradicional de organização curricular, estabelece novas relações entre
a teoria e a prática. Oferece condições para a emergência do trabalho coletivo
e interdisciplinar e possibilite a aquisição de uma competência técnica e
política que permita ao educador se situar criticamente no novo espaço
tecnológico.
Ao professor
cabe o papel de estar engajado no processo, consciente não só das reais
capacidades da tecnologia, do seu potencial e de suas limitações para que possa
selecionar qual é a melhor utilização a ser explorada num determinado conteúdo,
contribuindo para a melhoria do processo ensino-aprendizagem, por meio de uma
renovação da prática pedagógica do professor e da transformação do aluno em
sujeito ativo na construção do seu conhecimento, levando-os, através da
apropriação desta nova linguagem a inserirem-se na contemporaneidade.
O processo de
preparação dos professores, atualmente, consiste em cursos ou treinamentos com
pequena duração, para exploração de determinados programas, cabendo ao
professor desenvolvimento de atividades com essa nova ferramenta junto aos
alunos, sem que tenha oportunidade de analisar as dificuldades e
potencialidades de seu uso na prática pedagógica.
Estas mudanças
exigem uma profunda alteração curricular, em que os conteúdos acumulados pela
humanidade serão os objetos do conhecimento, mas os novos problemas e os
projetos para suas soluções comporão os procedimentos e atividades que serão
avaliados pelas escolas para constatar sua eficácia. Para inovações novos
instrumentos e utensílios serão necessários, entre eles as estradas da
comunicação como a Internet e a capacitação docente para o domínio das novas
tecnologias.
Formar
professores, neste contexto, exige: mudanças na forma de conceber o trabalho
docente, flexibilização dos currículos nas escolas e as responsabilidades da
escola no processo de formação do cidadão; socialização do acesso à informação
e produção de conhecimento para todos; mudança de concepção do ato de ensinar
em relação com os novos modos de conceber o processo de aprender e de acessar e
adquirir conhecimento; mudança nos modelos/marcos interpretativos de
aprendizagem, passando do modelo educacional predominante instrucionista, isto
é, que o ensino se constrói a partir da aplicação do conhecimento teórico
formulado a partir das ciências humanas e sociais que dariam fundamentos para a
educação; construção de uma nova configuração educacional que integre novos
espaços de conhecimentos em uma proposta de inovação da escola, na qual o conhecimento
não está centrado no professor e nem no espaço físico e no tempo escolar, mas
visto como processo permanente de transição, progressivamente construído,
conforme os novos paradigmas; desenvolvimento dos processos interativos que
ocorrem no ambiente telemático, sob a perspectiva do trabalho cooperativo.
Para Frigotto (1996), um desafio a enfrentar
hoje na formação do educador é a questão da formação teórica e epistemológica.
E esta tarefa não pode ser delegada à sociedade em geral. O locus adequado e
específico de seu desenvolvimento é a escola (Schon, 1992; Nóvoa, 1991, 1992) e
Universidade, onde se articulam as práticas de formação-ação na perspectiva de
formação continuada e da formação inicial.
O professor, na nova sociedade, revê de modo
crítico seu papel de parceiro, interlocutor, orientador do educando na busca de
suas aprendizagens. Ele e o aprendiz estudam, pesquisam, debatem, discutem,
constroem e chegam a produzir conhecimento, desenvolve habilidades e atitudes.
O espaço aula se torna um ambiente de aprendizagem, com trabalho coletivo a ser
criado, trabalhando com os novos recursos que a tecnologia oferece, na
organização, flexibilização dos conteúdos, na interação aluno-aluno e aluno-professor
e na redefinição de seus objetivos.
As informações que os jovens obtém através da
Internet não são apenas recebidas e guardadas. Elas representam um ponto de
partida e não um fim em si mesmas. Quando um estudante encontra uma informação
na Internet, ele a coloca no seu contexto, da sua realidade, busca mais
informações a respeito, torna-a um elemento da sua própria formação, sabendo
qual a importância daquilo que aprendeu.
Quando
estudantes podem trocar experiências e conhecimentos com colegas do mundo
inteiro, assim como bibliotecas, centros de pesquisas, universidades, museus,
todo um universo de percepção se abre para eles, a própria perspectiva de mundo
e de realidade se modifica, dando lugar à formação de um conhecimento mais
global, menos limitado às fronteiras nacionais e imediatas. Eles podem
construir pontes de conhecimento e entender outras culturas, outros modos de
compreender o significado das coisas, da realidade.
As mudanças
que vem ocorrendo em todos os campos do saber desloca o modelo de educação
escolarizada, que ocorre numa determinada faixa etária do aluno e num
determinado espaço físico, apoiada na especialização do saber, para uma
educação continuada que dá importância ao sujeito, à reflexão e a aprendizagem
em sua aplicabilidade à vida social, fundamentada em princípios de cidadania e
liberdade.
A reflexão,
como princípio didático, é fundamental em qualquer metodologia, levando o
sujeito a repensar o processo do qual participa dentro da escola como docente.
A formação deve considerar a realidade em que o docente trabalha suas
ansiedades, suas deficiências e dificuldades encontradas no trabalho, para que
consiga visualizar a tecnologia como uma ajuda e vir, realmente, a utilizar-se
dela de uma forma consistente.
O processo de
formação continuada permite condições para o professor construir conhecimento
sobre as novas tecnologias, entender por que e como integrar estas na sua
prática pedagógica e ser capaz de superar entraves administrativos e
pedagógicos, possibilitando a transição de um sistema fragmentado de ensino
para uma abordagem integradora voltada para a resolução de problemas
específicos do interesse de cada aluno. Deve criar condições para que o
professor saiba recontextualizar o aprendizado e as experiências vividas
durante sua formação para a sua realidade de sala de aula compatibilizando as
necessidades de seus alunos e os objetos pedagógicos que se dispõem a atingir.
Esta formação
propicia condições necessárias para que o professor domine a tecnologia - um
processo que exige profundas mudanças na maneira do adulto pensar. O objetivo
da formação, além da aquisição de metodologias de ensino, conhecer
profundamente o processo de aprendizagem, como ele acontece e como intervir de
maneira efetiva na relação aluno-computador, propiciando ao aluno condições
favoráveis para a construção do conhecimento. A ênfase do curso deve ser a
criação de ambientes educacionais de aprendizagem, nos quais o aluno executa e
vivencia uma determinada experiência, ao invés de receber do professor o assunto
já pronto.
Um curso de
formação em novas tecnologias prevê espaços para o desenvolvimento de
atividades de integração de tecnologias em educação, como trabalhar em grupos
que desenvolvem formas de utilizar as tecnologias com finalidade educacional. Para
essa capacitação: professores se apropriam das novas tecnologias como um
recurso próprio, como livros e lápis, e não como uma "caixa preta"
imposta externamente; educação permanente é um componente essencial da formação
de professores.
Seria útil que
existissem centros de apoio em que os professores pudessem testar programas e
receber orientações sobre o uso; há considerável necessidade para a cooperação
local e inter-regional, estimulada através de encontros periódicos e jornais
para a troca de experiências e de programas, estimulados pelo governo ou outras
instituições; enfatizar atitudes pedagógicas de inovação e interação nas
equipes interdisciplinares; uma visão integrada de ciência e tecnologia que
busque entender os processos científicos e a mudança nos paradigmas
científicos. Isso é recomendado de maneira a se colocar a tecnologia
educacional na perspectiva de um esforço científico; Para esta inserção social,
é fundamental o trabalho em equipe. Trabalhar em equipe e participar
efetivamente de um processo contínuo que tem início na apropriação da
intencionalidade de um projeto, mediante a tomada de consciência dos objetivos
e do sentido da situação; planejamento das ações pelas quais se implementará o
mesmo projeto; dos momentos de avaliação e de reorientações. Esta participação
implica em compartilhar os esforços de descoberta dos caminhos, de elucidação
dos obstáculos, visando-se sempre fazer com que a intencionalidade global do
projeto se explicite claramente, se torne coletiva, enquanto visada de um grupo
que, em volta dela, se constitui solidário.
O trabalho
cooperativo como uma estratégia incentivadora nas relações de trabalho entre
indivíduos é estimulante e através dele encontra-se um modelo em que a
convivência social e a autoestima são incrementadas. As ferramentas de apoio ao
trabalho cooperativo utilizando novas tecnologias são os hipertextos, correio
eletrônico, editores cooperativos de textos e as salas de aula virtuais.
As mudanças
que as tecnologias favorecem na postura do professor em aula: ajuda os alunos a
estabelecerem um elo de ligação entre os conhecimentos acadêmicos com os
adquiridos e vivenciados, ocorrendo uma troca de idéia e experiências, em que o
professor, em muitos casos, se coloca na posição do aluno, aprendendo com a experiência
deste. Durante as aulas os alunos são levados a pesquisar e estudar
individualmente, bem como a buscar informações e dados novos para serem
trazidos para estudo e debates em aula. Enfatiza-se uma aprendizagem ativa e um
processo de descobertas dirigidas. Incentiva-se a aprendizagem interativa em
pequenos grupos.
As principais
diretrizes teóricas na educação na Sociedade da Informação (Dowbor,1993;
Drucker, 1993), permitem desenvolver vários níveis de competência: Conhecimento
- transformar a informação em conhecimento - captar a informação relevante,
senti-la, relacioná-la com a vida. Ajudar a estimular o que é relevante na
informação, a transformá-la, a saber, integrá-la dentro de um modelo
mental/emocional equilibrado e transformá-la em ação presente ou futura.
Aprender a navegar entre tantas e tão desencontradas informações, entre modelos
contraditórios de conhecimento, de visões de mundo opostas.
Desenvolvimento
pessoal - integração pessoal, trabalhar a identidade positiva, a autoestima, o
valor dos professores. Permitir um professor com novos e variados papéis, que
funcione como planejador e como orientador da aprendizagem, capaz de se
comunicar, criativo, consciente de sua responsabilidade para contribuir com a
transformação da sociedade, e de seus limites como pessoa e como profissional,
em constante aperfeiçoamento, e assume conscientemente seu
auto-aperfeiçoamento. É o professor que usa as próprias experiências para
refletir criticamente sobre sua própria prática docente, e na ação-reflexão-ação
vai promovendo seu próprio desenvolvimento pessoal e profissional.
Desenvolvimento
cognitivo - os ambientes computacionais quando voltados para a inteligência e o
desenvolvimento cognitivo como processos básicos da aprendizagem podem
constituir-se num desafio à criatividade e invenção. Uma nova ecologia
cognitiva (Lévy,1993) significa uma nova dinâmica na construção do
conhecimento, um novo movimento, novas capacidades de adaptação e de equilíbrio
dinâmico nos processos de construção do conhecimento, um novo JOGO entre
sujeito e objeto, um novo enfoque mostrando o enlace e a interatividade
existentes entre as coisas do cérebro e os instrumentos que o homem utiliza.
Comunicação -
Aprender a manifestar o que o indivíduo é, o que sente, deseja, captar o que é
o outro em todas as suas dimensões. Aprender a comunicar-se com todas as
linguagens - oral, escrita, áudio-vídeo-gráfica - com todo o ser: corpo, mente,
gestos. Desenvolver formas de interação, baseadas na confiança, na valorização
mútua, na interação sensorial-emocional-intelectual aberta, criativa e
organizada. O educador é um comunicador que expressa capacidade de motivar, de
liderar, de coordenar e de adaptar-se aos vários ritmos dos diversos grupos.
Trabalho
interdisciplinar -as redes de computadores podem oferecer efetivas
oportunidades para trabalho cooperativo, mas problemas estruturais encontrados
no contexto escolar para uso de redes, que incluem acesso, custos telefônicos
para ligação on-line, tempo e equipamento, podem dificultar seu uso, devendo
ser buscadas alternativas para superar esses problemas.
Criticidade -
não basta que os alunos simplesmente se lembrem das informações: eles precisam
ter a habilidade e o desejo de utilizá-las, precisam saber relacioná-las,
sintetizá-las, analisá-las e avaliá-las. Juntos, estes elementos constituem o
pensamento crítico aparecendo em aula quando os alunos se esforçam para ir além
de respostas simples, quando desafiam ideias e conclusões e procuram unir
eventos não relacionados dentro de um entendimento coerente do mundo. Mas sua
aplicação mais importante está fora da sala de aula. A habilidade de pensar
criticamente apresenta pouco valor se não for exercitada no dia-a-dia das
situações da vida real. É aí que as redes telemáticas têm seu papel, fornecendo
o cenário para interessantes aventuras do intelecto. É preciso que se crie
condições para que os participantes desenvolvam visão crítica frente a
utilização das Novas Tecnologias na Educação, e se desenvolva estudos sobre
ambientes computacionais, proporcionando a ação e a reflexão sobre objetos de
conhecimento, favorecendo a aprendizagem a partir de situações experimentais e
conjeturais.
As novas
tecnologias podem ter um significativo impacto sobre o papel dos professores,
pela reciclagem constante recebida via rede, em termos de conteúdos, métodos e
uso da tecnologia, apoiando um modelo geral de ensino que encara os estudantes
como participantes ativos do processo de aprendizagem e não como receptores
passivos de informações ou conhecimento, incentivando-se os professores a
utilizar redes e começarem a reformular suas aulas e a encorajar seus alunos a
participarem de novas experiências.
Alguns pontos
positivos: ao ter acesso as tecnologias da informação e sua transformação em
conhecimento durante todo o período escolar, os alunos serão posteriormente
agentes de mudança no setor produtivo e de serviços ao influir naturalmente no
uso destas. O uso adequado destas tecnologias estimula a capacidade de
desenvolver estratégias de buscas; critérios de seleção e habilidades de
processamento de informação, não só a programação de atividades. Em relação a
comunicação, estimula o desenvolvimento de habilidades sociais, a capacidade de
comunicar efetiva e coerentemente, a qualidade da apresentação escrita das
ideias, permitindo a autonomia e a criatividade.
Os trabalhos
de pesquisa podem ser compartilhados por outros alunos e divulgados
instantaneamente em rede para quem quiser. Alunos e professores encontram
inúmeros recursos que facilitam a tarefa de preparar as aulas, fazer trabalhos
de pesquisa e ter materiais atraentes para apresentação. A possibilidade de que
os usuários tenham acesso às redes de informação de todo o mundo durante todo o
período escolar, independente do lugar geográfico em que estudam, amplia sua visão
de mundo, sua capacidade de comunicar-se com pessoas de outras culturas,
idiomas, interesses.
Os projetos
exitosos estão centrando seus esforços no interesse em incorporar as novas
tecnologias como uma ferramenta habitual nas práticas docentes pode conseguir
gradualmente mudanças significativas na qualidade e efetividade de seu
trabalho.
A formação de
professores em novas tecnologias permite que cada professor perceba, desde sua
própria realidade, interesses e expectativas, como as tecnologias podem ser
útil a ele. O uso efetivo da tecnologia por parte dos alunos, passa primeiro
por uma assimilação da tecnologia pelos professores. Se quem introduz os
computadores nas escolas, o fazem sem atenção aos professores, o uso que os
alunos fazem deles é de pouca qualidade e utilidade. Além disso, o fato de só
colocar computadores em uma escola raras vezes traz impacto significativo. Para
atingir efeitos positivos, é fundamental considerar uma capacitação intensiva
inicial e um apoio contínuo, começando com os professores, quem a sua vez,
poderão capacitar a seus alunos. É necessário planejar a integração da
tecnologia na cultura da escola, fenômeno de avaliação gradual, que requer
apoio externo.
Se espera do
professor no século XXI que ele seja aquele que ajude a tecer a trama do
desenvolvimento individual e coletivo e que saiba manejar os instrumentos que a
cultura irá indicar como representativos dos modos de viver e de pensar
civilizados, específicos dos novos tempos. Para isso, ainda são necessárias
muitas pesquisas em novas tecnologias da informação, modelos cognitivos,
interações entre pares, aprendizagem cooperativa, adequados ao modelo baseado
em tecnologia, que oriente a formação de professores no seu desenvolvimento e
ofereça alguns parâmetros para a tarefa docente nesta perspectiva.
REFERÊNCIAS
DOWBOR, L. O espaço do conhecimento. In: A revolução tecnológica e os
novos paradigmas da sociedade. Belo Horizonte, IPSO, 1993.
DRUCKER, P. Sociedade
pós-capitalista. São Paulo, Pioneira, 1993.
FRIGOTTO, G. A formação e
profissionalização do educador frente aos novos desafios. VIII ENDIPE,
Florianópolis, 1996. Pp. 389-406.
LÉVY, P. As tecnologias da
inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro,
ed.34, 1993.
NÓVOA, A. Formação contínua de
professores: realidades e perspectivas. Aveiro, Univ.Aveiro, 1991.
SCHÕN, D. Formar professores como
profissionais reflexivos. In: NÓVOA, A. (org) Os professores e sua formação.
Lisboa, Dom Quixote.
O Professor e o
Mundo Contemporâneo
O mundo contemporâneo
atravessa enormes modificações econômicas, sociais, políticas e culturais.
Vivemos um momento histórico intensamente marcado pela internacionalização da
globalização e da tecnologia. Ocorre um processo de universalização da cultura,
dos produtos, das trocas, dos custos e do capital.
O processo de
internacionalização do comércio está administrado pela direção econômica
neoliberal. A educação não está imune a este processo. Reformas curriculares
ocorreram em todos os países marcados pela valorização da formação estudantil
com implementação de um espírito de ação e liderança, da capacitação para o
trabalho em grupo, e do uso das tecnologias. O momento se caracteriza por um
imenso aumento da capacidade de se obter informação. Objetos são produzidos
pela informação com a finalidade de comercialização. As culturas do consumo e
da propaganda são fortificadas e tudo gira em função do comprar e do vender, de
modo que a propaganda se dirige para o consumidor que deve ser aliciado
emocionalmente. O capital, ao dominar as mídias, acaba por dominar as emoções,
os sentimentos, os hábitos e seduz fortemente os desejos das pessoas. A mídia
transforma o cidadão em consumidor, na globalização neoliberal.
Como
educadores não devemos identificar o termo informação com conhecimento, pois,
embora andem juntos, não são palavras sinônimas. Informações são fatos,
expressão, opinião, que chegam às pessoas por ilimitados meios sem que se
saibam os efeitos que acarretam. Conhecimento é a compreensão da procedência da
informação, da sua estrutura e dinâmica própria, e das consequências que dela
advém, exigindo para isso um certo grau de racionalidade. A apropriação do
conhecimento é feita através da construção de conceitos, que possibilitam a
leitura crítica da informação, processo necessário para absorção da liberdade e
autonomia mental.
Hoje, exige-se
do novo aluno um certo desenvolvimento de capacidades intelectuais, de
abstração, de rapidez de raciocínio e de visão crítica mais ampla que valorize
mais do que a racionalidade baseada apenas na informação. O conhecimento não
pode se reduzir apenas ao saber fazer, aprender a usar, aprender a comunicar,
com capacidade de adaptação às mudanças técnicas continuadas do processo
produtivo, do mercado e da sociedade, imposto pela globalização neoliberal. A
inclusão da educação desenvolve as condições de realização da cidadania porque
absorvem conhecimentos, habilidades, técnicas, novas formas de solidariedade
social, porque associa tarefas pedagógicas e ações sociais pela democratização
da sociedade. A educação é um caminho de acesso ao conhecimento significativo,
que se caracteriza por propiciar um saber que liberta. A assimilação do
conhecimento, das opiniões, pode permitir uma elevada capacidade de letramento,
que nada mais é do que a leitura crítica da informação, que é um dos caminhos
para a liberdade mental e política. Nesse processo o professor é o mediador
dessa interação do aluno com o conhecimento, visto que ele deve proporcionar ao
aluno o mundo da informação, da técnica, da tradição e da linguagem, para que o
mesmo possa construir seu pensamento, suas aptidões e suas atitudes,
possibilitando aprendizagens significativas. O papel do professor deve ser o de
ajudar o aluno a desenvolver sua aptidão do pensar, através da técnica do
diálogo, estimular a capacidade cognitiva do aluno através do saber aprender,
saber fazer, saber agir, saber conviver e se conhecer. O educando deve aprender
a ser sujeito do próprio conhecimento que aprende a aprender, a buscar
informação, como sujeitos pensantes de maneira prática e analítica. O professor
deve aprender a gostar dos alunos, transformando a sua aula mais agradável,
motivadora e prazerosa. É necessário estimular a solidariedade mediante os
valores democráticos e éticos. Isso significa ouvir o outro; respeitar as
diferenças, aperfeiçoar as técnicas de comunicação, indicar formas mais
competentes do conhecimento expressivo. Deve assumir uma atitude
interdisciplinar passando do conhecimento interligado para o particularizado e
deste para o integrado, distinguir e respeitar a diversidade em cada indivíduo
e priorizar a igualdade dos direitos dos cidadãos em uma sociedade capitalista
que é por excelência desigual e excludente. O saber conviver com as diferenças
é saber conviver com pessoas possuidoras de crenças, compreensão de vida e
interesses diferentes. A Educação cultivando valores de solidariedade, está ao
lado dos excluídos e combate os efeitos do capitalismo . A luta contra a
exclusão social também passa necessariamente pelo trabalho do professor.
Os novos
tempos exigem um padrão educacional que esteja voltado para o desenvolvimento
de um conjunto de competências e de habilidades essenciais, a fim de que os
alunos possam fundamentalmente compreender e refletir sobre a realidade,
participando e agindo no contexto de uma sociedade comprometida com o futuro.
Grandes desafios se descortinam a nossa frente. O maior deles diz respeito à
descoberta de construções que permitam desenvolver nos estudantes, a confiança
nas suas capacidades de criar, de construir e reconstruir a fim de que o aluno
se plenifique a partir de competências e habilidades e, não mais, somente,
através de conhecimentos.
Autora: Amelia Hamze
Profª FEB/CETEC e FISO
A Importância da
afetividade no contexto educacional do universo virtual.
Autoras: Brigitte Bedin; Clara Sihel;
Márcia Marisa Corrêa; Aria Delcina Feitosa; Marjorie Klich Nunes.
Para Piaget, o
papel da afetividade é funcional na inteligência, pois esta é a fonte de
energia que a cognição utiliza para o seu respectivo funcionamento. Uma melhor
explicação para representar este postulado, se encontra na seguinte metáfora,
criada pelo próprio Piaget: “a afetividade seria como a gasolina, que ativa o
motor de um carro, mas não modifica sua estrutura”; ou seja, existe uma relação
intrínseca entre a gasolina e o motor —— ou entre a afetividade e a cognição —,
porque o funcionamento do motor, comparado com as estruturas mentais, não é
possível sem o combustível, que no caso é a afetividade.
Ao pensarmos a
educação virtual deparamo-nos com a ausência do contato físico, ou seja, a
possibilidade de olhar, perceber através dos sentidos. Segundo Luciana Martins
Saraiva: “Numa relação virtual, certas características e dimensões implícitas
apontam formas de ser e de configurar sentidos, condições essas de grande
significado, tais como a necessidade de estabelecimento de contatos, de
ampliação de laços de afetividade com ênfase na imagem e voz de professores e
alunos – atores desse processo – e a importância do olho-no-olho, do face a
face, mesmo que distantes em tempo e espaço”.
Desde os
primórdios de nossa existência fala-se da dicotomia entre razão e emoção, ou
seja, muitos foram os filósofos que sugeriram essa separação, um bom exemplo é
René Descartes com o cogito: “Penso, logo existo”. Em nosso dia-a-dia
convivemos com frases como: “não aja com o coração”, “coloque a cabeça para
funcionar”, “seja mais racional”, “Fica a impressão de que, em nome de uma
resolução sensata, deve-se desprezar controlar ou anular a dimensão afetiva”.
(Arantes, 2002)
E pela ótica
cognitiva? Qual a importância da afetividade no aprendizado?
Partimos da
premissa de que no trabalho educativo cotidiano não existe uma aprendizagem
meramente cognitiva ou racional, pois os alunos e as alunas não deixam os aspectos
afetivos que compõem sua personalidade do lado de fora da sala de aula, quando
estão interagindo com os objetos de conhecimento, ou não deixam
"latentes" seus sentimentos, afetos e relações interpessoais enquanto
pensam. (Arantes, 2002)
Cultivar a
afetividade em qualquer relação é fundamental para que se sedimente e
frutifique. Em relação à educação Madalena Freire diz que “somos geneticamente
amorosos” então vale buscar este amor do qual somos dotados e trazê-lo para
nossa relação tanto enquanto ensinante quanto enquanto aprendente. Pois sendo
professor ou aluno, ora assumimos um papel, ora outro. Também diz Madalena que
“Para rir e brincar construindo conhecimento é necessário uma boa dose de
humildade e abertura para as divergências, as diferenças. Também
disponibilidade para conviver com o estado de desarmonia que o conflito
provoca.”
Acreditamos
que cultivar a afetividade no ambiente de aprendizagem, seja ele virtual ou
não, vai além da troca de amabilidades, mas do exercício contínuo do amor ao
outro, no ato generoso e humilde de transferência de informação para a geração
do conhecimento e a consequente assimilação da resposta do outro, dentro dos
preceitos de civilidade, respeito e afeto.
Consciente de
que cada um é senhor do seu aprendizado, que somos, enquanto educadores, apenas
facilitadores ou mediadores do processo, função de extrema importância, mas que
deve ser enxergada com humildade, totalmente isenta da pecha do mestre.
Valente nos
fala do “estar junto virtual” em EaD que prega que e o processo educativo passa
por “múltiplas interações no sentido de acompanhar e assessorar o aprendiz para
entender o que ele faz e, assim propor desafios que o auxiliem a atribuir
significado ao que está desenvolvendo” Na verdade o que Valente nos diz é que a
interatividade é a base do processo educacional em EaD e que para que o
processo se desenrole a contento há que se construir a relação afetiva entre os
atores, na tentativa de resolver a questão da ausência espacial e temporal,
construindo o “estar junto virtual”.
Em nosso curso
cremos que isto se estabelece quando as relações com tutor são profícuas e
quando conseguimos chamar o colega com o qual interagimos apenas no ambiente
virtual de: Amigo!
Fica patente a
importância das relações interpessoais quando lemos os PCNs que reconhecem a
importância da participação do aluno e da relação interpessoal no processo de
ensino e aprendizagem, bem como, através dos Referenciais de Qualidade para
Educação Superior à Distância (MEC - 2007):
“Em suma, o
projeto de curso deve prever vias efetivas de comunicação e diálogo entre todos
os agentes do processo educacional, criando condições para diminuir a sensação
de isolamento, apontada como uma das causas de perda de qualidade no processo
educacional, e uma dos principais responsáveis pela evasão nos cursos a
distância”.
Porém, Segundo
Marchand, (1985: 19) na prática pedagógica, podem surgir entre professor e
aluno, sentimentos de atração ou de repulsão. Essas atitudes sentimentais têm o
poder de influenciar a metodologia com risco de alterá-la, provocando no aluno,
rudes transformações afetivas mais ou menos desfavoráveis ao ensino. O poder do
professor é maior que o do livro, e a qualidade do diálogo estabelecido entre
professor e aluno é importante para uni-los, criando um laço especial, ou para
separá-los, criando obstáculos intransponíveis.
A evasão no
contexto virtual é uma realidade que pode ser minimizada através da
afetividade. Trazer o aluno para perto, dialogar, fazê-lo sentir-se parte do
processo educativo, ações necessárias para mantê-lo feliz e participativo.
Quando o professor se dispõe a ensinar e o aluno a aprender, vai se formando
uma corrente de elos afetivos que propicia uma troca entre ambos, onde a
motivação, a boa vontade e o cumprimento dos deveres acabam deixando de serem
tarefas árduas para o aluno. Criatividade, interesse e disposição para
esclarecer dúvidas, funcionam como estímulo para o professor.
Codo e
Gazzotti (2002) definem a palavra seduzir como “trazer para o seu lado”. Isto
significa que o professor precisa fazer um trabalho de conquista, levando o
aluno a confiar nele, a acreditar que determinado conteúdo lhe será útil. Isto
é sedução e afetividade.
Segundo
Freire, não existe educação sem amor. “Ama-se na medida em que se busca
comunicação, integração a partir da comunicação com os demais” (FREIRE, 1983:
29). Freire (1996) ainda nos diz que o professor precisa estar aberto ao gosto
de querer bem. Isso não quer dizer que o professor tenha de querer bem a todos
os alunos da mesma forma, mas que ele não deve permitir que sua afetividade
interfira no cumprimento do seu dever de educador. Abertura ao querer bem
significa disponibilidade para a alegria, para o afeto, para o Amor.
Alicia
Fernández, psicopedagoga argentina, em entrevista dada à revista Aprende Brasil
(junho/julho 2007, p.14-17), atenta para a necessidade de fazer do afeto uma
das ferramentas no ato de educar. Tratar o aluno com afeto não significa tratá-lo
com beijos, abraços ou procurando agradá-lo, significa apenas que devemos
acordar e tomar atitudes que nos levem a sair de nossa indiferença, porque essa
“indiferença” é justamente a falta de afetividade.
Não bastam
técnicas e dinâmicas para promover afetividade, até mesmo porque elas não podem
ser inseridas em qualquer contexto, sejam presenciais ou digitais. É necessário
um profundo conhecimento dos interlocutores que participam do processo de
aprendizagem e compreender como se relacionam no mundo digital. Assim sendo, os
professores que atuam no ambiente virtual precisam estar cientes de que as
respostas e comportamentos dos alunos são produzidos por pessoas reais que
amam, odeiam, sentem medo e também podem sentir-se excluídos caso não recebam o
afeto e acompanhamento necessários para o seu desenvolvimento. Inovar não
apenas através do método e tecnologia, mas também como ser humano.
Bibliografia
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e moralidade. São Paulo, Educação e Pesquisa, 26(2): 137-153, 2001; ARANTES,
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CODO, Wanderley (Coordenador)
GAZZOTTI, Andréa Alessandra. Educação: carinho e trabalho. Petrópolis, RJ: 3ª
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Educação: Universidade de Brasília. Laboratório de Psicologia do Trabalho,
2002.
FREIRE, Madalena. Educador educa
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FREIRE, Paulo. Educação e
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VALENTE, J. A. Formação de
educadores para o uso da informática na escola. Campinas: UNICAMP/NIED, 2003.
Educação para o
futuro
Uso de
tecnologias no ensino precisa vencer barreiras de infraestrutura, como número
insuficiente de computadores nas escolas e baixa velocidade de internet;
capacitação dos professores é outro desafio.
O cenário
parece positivo: praticamente todas as escolas brasileiras têm um computador e
92% delas estão conectadas à internet. Os problemas aparecem quando os dados
são analisados com um olhar mais meticuloso: o número de computadores em cada
escola ainda é insuficiente, eles costumam ser instalados em locais inadequados
ao uso pedagógico e a conexão à internet tem baixa velocidade nas escolas
públicas. Além disso, falta capacitação aos professores para usar as
Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) no ensino.
O panorama vem
da pesquisa TIC Educação 2012, realizada pelo Núcleo de Informação e
Coordenação do Ponto BR do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação
e da Comunicação - CETIC.br, que entrevistou 1,5 mil professores de 856 escolas
de todo o país (veja infográfico). E se a maioria das escolas possui
computador, o número das que têm o equipamento disponível para a utilização dos
alunos é bem menor. De acordo com dados do Censo Escolar 2012, 42,4% das
escolas públicas urbanas e 78% das rurais não possuem laboratórios de
informática.
Alexandre
Barbosa, gerente do Cetic.br, explica que as políticas públicas que levaram
tecnologia às escolas tiveram sucesso relativo. "Na percepção da direção,
o que mais dificulta o uso pedagógico é o número de computadores insuficiente e
a baixa velocidade da internet", diz. De acordo com a pesquisa, 27% das
escolas que possuem conexão à internet têm velocidade inferior a 1Megabit por
segundo (Mb/s) e apenas 17% têm velocidade de conexão superior a 8 Mb/s - em um
grupo que engloba escolas públicas e privadas. "Na escola pública, a
velocidade média de conexão à internet é de 1 a 2 Mb/s", conta. Na zona
rural, a dificuldade é ainda maior e só 13% das escolas públicas possuem acesso
à internet, de qualquer tipo, de acordo com o Censo de 2012.
Outro problema
é o uso do computador, ainda restrito ao laboratório de informática, quando
deveria estar presente em sala de aula, local que concentra a rotina dos alunos
na escola. "Apenas 4% das escolas públicas têm computadores e internet
dentro de sala de aula", relata Barbosa.
Formação docente
Mas o grande
nó no uso das TICs no ensino parece ser a capacitação dos professores. Segundo
a pesquisa, 28% dos professores dizem ter habilidade insuficiente ou muito
insuficiente relacionada ao uso profissional de computadores e internet.
"O grande desafio hoje é ter o professor treinado para fazer o uso das
TICs. O número de professores que sabem usar essas tecnologias está aumentando,
mas ainda é um uso instrumental, quando o necessário é aprender a utilizá-las
pedagogicamente, apenas usar computador e internet a nova geração já
sabe", diz Barbosa.
Nos cursos de
pedagogia e licenciaturas o uso das novas tecnologias no ensino ainda é pouco
abordado. Apenas 44% dos professores entrevistados no estudo do Cetic.br
cursaram alguma disciplina sobre uso do computador e internet na graduação.
Além das dificuldades técnicas, os professores argumentam ter pouco tempo e
receio de conhecerem menos sobre as ferramentas que os alunos.
Para Lígia
Leite, vice-presidente da Associação Brasileira de Tecnologia Educacional
(ABT) e autora do livro Com Giz e Laptop - da concepção à integração de
políticas públicas de Informática, os professores precisam conhecer as
tecnologias disponíveis e ter sólida formação pedagógica para saber unir o conteúdo,
a técnica e a didática. "E essa formação deve ser continuada porque sempre
surge uma tecnologia nova, um recurso novo. É preciso fazer cursos rápidos que
os habilitem a usar certa ferramenta. Além disso, em meio ao processo também é
preciso fazer uma avaliação crítica para saber se as ferramentas estão sendo
boas e se vale a pena continuar a utilizá-las", diz Lígia.
A ausência do
uso das TIC no Projeto Político-Pedagógico (PPP) da escola também compromete o
trabalho a ser feito pelo professor, afirma Patrícia Alejandra Behar,
coordenadora do Núcleo de Tecnologia Digital Aplicada à Educação da Faculdade
de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e das Oficinas
Tecnológicas do curso de especialização em Gestão Escolar da UFRGS. "Vejo
que falta um projeto para inserção das tecnologias nas escolas, que explique
como, para quê e por que usá-las. Os professores recebem tablets e não sabem o
que fazer, acabam usando jogos e mais nada. É preciso integrar as TICs ao
projeto pedagógico das escolas de forma positiva e desafiadora", diz.
Patrícia
ressalta que muitos professores têm uma carga horária alta e não dispõem de
tempo para realizar cursos. A solução, segundo ela, seria aproveitar horários
em que os docentes estão na escola, mas fora de sala de aula, como os Horários
de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC) ou períodos de férias dos estudantes.
É essa a
proposta do Crescer em rede - um guia para promover a formação continuada de
professores para a adoção de tecnologias digitais no contexto educacional:
orientar professores e coordenadores pedagógicos a organizarem um grupo de
estudos na escola sobre o tema. O material, organizado por Luciana Allan,
diretora do Instituto Crescer, aborda questões como pesquisas na internet,
construção de blogs, uso de recursos audiovisuais, objetos digitais de
aprendizagem e trabalho colaborativo. A segurança na internet, o perigo do
ciberbullying e as oportunidades trazidas pelas redes sociais também são
discutidos. Dividido em dez encontros, o guia mostra como planejar essa
formação, registrar o resultado das reuniões e avaliar o trabalho desenvolvido.
O livro pode ser consultado on-line ou baixado gratuitamente no site:
http://institutocrescer.org.br/cresceremrede/.
Programas do MEC
Para levar as
tecnologias digitais para as escolas públicas, o MEC criou vários projetos,
como o Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo), que leva
computadores, recursos digitais e conteúdos educacionais às escolas, o projeto
Um Computador por Aluno (UCA), que distribui netbooks para os estudantes e,
mais recentemente, a distribuição de tablets para os professores do ensino
médio. Para promover o acesso à internet há ainda o Programa Banda Larga nas
Escolas (PBLE) e outras ações, como o Programa Nacional de Formação Continuada
em Tecnologia Educacional (ProInfo Integrado), que orientam os educadores sobre
o uso dessas tecnologias. Segundo os especialistas consultados, os projetos
estão na direção certa, mas a qualidade e a quantidade de sua oferta ainda são
insuficientes.
"O MEC
abriu os olhos para a necessidade de as escolas estarem conectadas e de as
tecnologias pedagógicas serem disseminadas na rede pública de ensino. A direção
é esta, mas ainda faltam investimentos em infraestrutura e suporte
técnico", diz Patrícia.
Para ela, o
grande problema é a falta de manutenção. Se um computador estraga ou se ocorre
um problema no servidor, não há quem se responsabilize e resolva a falha. Ela
também lembra que a formação dos docentes para usar as tecnologias digitais
ainda não é satisfatória, apesar de a tentativa existir. "Eles sabem o
quanto é importante", diz.
Para Lígia, o
ponto forte dos programas desenvolvidos pelo MEC é a produção de objetos de
aprendizagem, que têm uma oferta grande nas diversas áreas e são acessíveis a
todos os interessados. "É uma semente lançada, mas não o suficiente. O
Brasil é grande e muito diverso."
Lembre-se: A principal meta da educação é criar homens que
sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras
gerações fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. “A
segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar,
verificar e não aceitar tudo que a elas
se propõe.”
( Jean Piaget)